O diabo e o exorcista trapaceiro* - capítulo 4


Capítulo 4

Sonhos, mensagens e revelações.

Olegário acordou durante a noite atônito com o sonho que tivera. Parecia real a presença de um anjo que dizia trazer uma mensagem divina, mais ou menos, com o seguinte teor.

Pastor, você já é uma coroa de glórias. Tens lutado bravamente, embora inconscientemente, contra os inimigos do Senhor. Tens sido um instrumento divino na propagação do evangelho. Deus observou em seu coração a alegria de ver o bem vencer o mal, portanto estás perdoado por teus pecados ao passado. O Senhor tem lhe dado poderes para que possas enfrentar o Demônio e seus seguidores, assim como para fazer milagres, embora as suas orações ainda não sejam de todo sinceras, mas as dos fiéis são de uma vibração muito especial, chegando até o Reino do Céu com muita intensidade. Sendo assim, são atendidas por serem verdadeiras. Todas as curas e expulsões de Satanás foram atendidas em decorrência da fé das pessoas que te veneram. Você continuará restaurando vidas e o Espírito Santo estará trabalhando através de ti. Sua primeira recompensa será o restabelecimento da família. Verônica estará de volta ao lar, com os seus amados filhos, em breve.

Uma grande alegria havia se instalado na mente do exorcista. Não conseguiu mais dormir, mas não se sentia cansado. Pela manhã estava bem-disposto e alegre. Sonhou acordado com sua amada a noite inteira. Ao encontrar o parceiro na copa do complexo da igreja, antes de tomar o café, fez algo que jamais tinha pensado: solicitou silêncio ao amigo, que como sempre tagarelava pelos cotovelos. Concentrado, orou com fervor agradecendo a noite de conforto e o alimento que degustaria em seguida. Iniciou o desjejum com o assistente intrigado: “o que houve com você? Só estamos nós dois aqui. Não há necessidade de fingimento. Já sei: estás treinando”.

        − Meu querido irmão Santelmo, nós temos realizado coisas grandiosas e sempre fiquei feliz por poder proporcionar a paz e a alegria nas pessoas que nos rodeiam. Cometemos muitos erros e pecados, mas Deus tem nos protegido, pois nos permitiu fazer parte do seu plano divino.

Há muito tempo o ajudante número um do pastor estava encafifado com as armações do amigo. Não resistindo mais à curiosidade, interpelou Olegário sobre a situação. “Diga-me uma coisa, aquele exorcismo que você fez em Puxaré, com todos aqueles efeitos especiais, quem te ajudou naquela produção?” O parceiro fica atônito: “não foi você Santelmo?” A resposta negativa foi acompanhada da seguinte explicação:

Parei para comer umas mangas, pois estava bem adiantado. Acabei adormecendo e sonhando com uma musa. Só loucuras de amor... Quando acordei fui direto para o casebre, e lá chegando, por volta das cinco da tarde, você já tinha iniciado os trabalhos. Fiquei frustrado e imaginei que você ria debochando e que iria me esculhambar depois. Mas você continuou a me tratar normalmente e até chegou a elogiar a minha participação no evento. Não tive coragem para lhe contar a verdade, pois estava feliz com a sua alegria e satisfação.

        − Meu amigo, “O único homem que jamais erra é aquele que nunca faz nada”, já dizia Eleanor Roosevelt, mulher daquele grande presidente norte-americano. Acredito no que você está dizendo e tenho quase certeza que naquele momento foi Deus o grande realizador da vitória contra o coisa ruim. Estou prestes a ganhar o maior presente da minha vida: Verônica e meus filhos estarão de volta ao lar, doce lar...

Olegário já estava refreando a sua ambição pelos ganhos financeiros e demonstrava cada vez mais um envolvimento com o plano espiritual, mas Santelmo continuava buscando, sempre que tinha oportunidade, um jeitinho para ganhar mais dinheiro à custa dos incautos. Era a sua sina. Parece que tinha nascido para aplicar golpes. Essa era a sua única ligação com o tal plano do outro mundo de que o amigo agora falava com frequência. Aquela piração do retorno da mulher e filhos deixou o assistente perturbado. “Será que o meu parceiro enlouqueceu de verdade?” Pensou em apimentar o bate-papo perguntando pela busanfa da Marta, mas não se atreveu. Algo o impedia de colocar aquele assunto em pauta. Ainda não sabia bem por que, mas iria descobrir. Também estava preocupado com o seu envolvimento com Sueli. Nem era bom imaginar o que poderia acontecer se algo fosse descoberto.

Sueli e Santelmo viviam umas paixões enlouquecidas. Os dois se mostravam dependentes e necessitavam estar juntos em quase todos os momentos e como Olegário e Verônica tinham acertado os ponteiros e estavam rumando para o Rio de Janeiro para passarem uma semana em lua de mel, Santelmo convocou a amada para ajudá-lo na organização da agenda da igreja. O objetivo do malandro era estar mais próximo e por mais tempo ao lado da mulher. A oferta foi aceita de bom grado. Nas conversas que tinha com Sueli o espertalhão não cansava de se auto elogiar.

Faço as mesmas coisas que Olegário. Sou capaz de exorcizar e também tenho o dom da cura. Mas por ser muito amigo e grato ao pastor e não quero deixá-lo aborrecido. Tenho certeza que ele iria ficar enciumado e não gostaria de ver o meu amigo chateado. Cá pra nós: sou até melhor e sei que ele tem noção disso. Você não percebe como ele me pede para substituí-lo em diversas ocasiões? Lá em Puxaré ficou inseguro e pediu para que eu o substituísse no embate com o velho incendiário. Foi necessário dar uma injeção de ânimo no pastor para que o trabalho fosse bem realizado.

Certo dia o telefone tocou e Sueli, ao atender, retornou dizendo: “Santelmo, é da penitenciária, um tal de diretor Petrônio deseja falar com urgência com o pastor. Expliquei que ele está fora do estado. O cara está muito agitado e insiste em falar com alguém que possa fazer contato imediato com o pastor Olegário. Está na linha.” Santelmo franziu a testa. Matutou: coisa que vem da prisão não é boa coisa. Mas sabia que não podia deixar transparecer sua preocupação para a Sueli. Afinal ele era mais forte ou não do que o amigo? Foi atender e colocou o aparelho que estava no escritório no viva voz para fazer bonito na frente da amada. “Alô! Aqui fala o pastor Santelmo!”

Pastor aqui quem fala é o doutor Petrônio. Sou diretor da Penitenciária Central do estado e estou com problemas de ordem espiritual entre os meus detentos. Algumas coisas graves estão ocorrendo com os presos há algum tempo. Eles estão reivindicando a presença do pastor Olegário. Acham que somente ele poderá por fim nas assombrações através dos seus cultos de exorcismo. Desejam realizar um ato de libertação aqui na cadeia. Sem querer fazer piada e com todo o respeito pastor Santelmo, a libertação não é para ganharem a liberdade, mas sim para se livrarem das forças malignas.

Santelmo fez voz de indignado e mandou: “Senhor Petrônio! O senhor está falando com um pastor consagrado. Pensa que não sei a diferença do que é um culto de libertação para um culto comum?” O diretor prontamente respondeu: “desculpe-me pastor. Eu não conheço os termos e significados corretos da religião. Não me entenda mal”. Santelmo olhou para Sueli todo pimpão transmitindo vitória no embate que ele mesmo provocou. Demonstrou que adorou as desculpas de Petrônio. Mudou o tom da voz para um diapasão mais ameno: “me diga com calma o que está acontecendo na sua Penitenciária”.

        − Bem! Vou fazer um breve resumo da situação. Temos um preso que está detido há mais de 5 anos e que de um ano e meio pra cá passou a dirigir cultos a satanás. Vários padres e pastores, que antes visitavam a penitenciária, estranhamente não têm mais comparecido. Os presos cristãos estão sem amparo religioso. Não se queixam pessoalmente com a administração, com medo de represálias, mas tenho recebido inúmeras denúncias anônimas, muitas através de cartas, onde reclamam que não podem fazer os seus cultos porque o tal bandido, mais conhecido como Trovão, tem um pacto com o demônio e com os seus poderes malignos afasta outros religiosos do convívio social e não permite a realização de manifestações que não sejam as da sua seita. Quem não cumpre o acordado é amaldiçoado. Crimes estão ocorrendo aos montes no local. Aquilo lá está fervendo. Virou um verdadeiro caldeirão do Diabo.

        Santelmo ouvia tudo com atenção. Sabia que esse tipo de convite não era rendoso. Visitar cadeias e pregar o evangelho não dá dinheiro. Sempre foi contra esse tipo de ação, embora Olegário insistisse em atender essas reivindicações, pois o pastor conhecia de perto a necessidade que os presos possuem de se recompor com Deus. “Muito bem, senhor diretor, vou agendar uma ida para o próximo mês e sei que o pastor Olegário terá um grande prazer em poder ajudá-lo nesse momento angustiante”.

        − Acredito que não me fiz entender, pastor Santelmo. Eu estou clamando urgentemente pela presença do pastor Olegário para o próximo sábado. Queira me perdoar. Desconhecia que necessitava de marcar com muita antecedência esse encontro e como ainda é quarta-feira, imaginei que conseguiria trazer o pastor nesse sábado que está pra chegar. Cheguei mesmo a iniciar os preparativos para a realização de um evento de grande porte. Instalei um palco no pátio central e coloquei 12 caixas de som espalhadas pelo presídio. Tenho aproximadamente 3 mil presos e espero que todos possam ouvir com clareza as palavras do religioso. Se o pastor não comparecer vou ficar desmoralizado. As consequências serão desastrosas. Ainda por cima corre na cadeia um boato que eu protejo esse Trovão filho da puta.

        Há tempos que Santelmo suplicava ao pastor para meter a mão na massa. O auxiliar achava que era malandro o bastante para representar o papel de exorcista sugestionando os fiéis, que para ele não passavam de uma cambada de otários. Mas Olegário sentia que o amigo não estava preparado para a empreitada: faltava-lhe a fé! Enquanto ouvia Petrônio, pensava: “essa é a hora que eu esperava para agir”. Após a exposição do diretor, mandou: “infelizmente não será possível à participação do pastor Olegário. Ele acaba de se reconciliar com a esposa e viajou para Porto de Galinhas, em Pernambuco, em uma segunda Lua de Mel. Volta somente na próxima quarta-feira”. Houve uma longa pausa ao telefone. O picareta pressentiu que o interlocutor estava desapontado com a sua fala. Ficou quieto por mais alguns segundos, deixando o clima de tensão evoluir. Depois, após pigarrear, disse em voz pausada e firme: “talvez eu possa ajudar. Como bem pensou o sábio Peter McIntyre: ‘a confiança provém não de se ter sempre razão, mas de não se ter medo de errar’. Que tal eu representar o meu fraterno amigo Olegário?”. Petrônio estava embaraçado. Com toda aquela publicidade em torno da ida do pastor à sua cadeia só lhe restava uma saída: aceitar a oferta.

        − Pastor, eu agradeço a sua disposição. Vou aceitar, pois estou em uma situação muito complicada. Quero garantir o direito constitucional dos presidiários nas realizações de cultos e crenças religiosas. Só gostaria de contar com a sua aquiescência na não divulgação do seu nome. Temo que possa haver tumulto se for divulgado que o pastor Olegário não estará presente. Sendo assim, deixo por sua conta avisar a turba sobre a mudança de planos no dia da sua apresentação. O que o senhor acha dessa minha ideia?

        O vigarista nem titubeou. Pegou com unhas e dentes a oportunidade que surgia como um canto de sereia. Há muito tempo queria provar para Olegário que poderia dar conta do recado, que exorcizar era moleza. A fama do amigo começou na cadeia e a sua também iria dar os primeiros passos em um local semelhante. Tratou os detalhes da empreitada com o Dr. Petrônio e desligou o aparelho todo serelepe. Olhou para Sueli e perguntou: “você vai comigo?” Recebeu como resposta: “me deixa fora disso. Não quero confusão. Imagina se Bodinho descobre que compareci em outra penitenciária com você. Ele vai ficar bolado e, com certeza, ligará os fios da meada. Você deve ir só”.

        A princípio o vigarista ficou abatido com a negativa de Sueli, mas depois, pensando com calma, percebeu que ela tinha razão. Não deveria correr o risco de despertar em Bodinho uma desconfiança quanto ao seu relacionamento com a mulata. Começou a divagar: “veio a calhar essa reconciliação do pastor com sua mulher... Finalmente chegou a hora em que poderei mostrar as minhas qualidades. Vou dar um tremendo sacode nesse trovoadinha”. O malandro não sabia que o Dr. Petrônio omitiu uma série de informações preciosas a respeito do bandido Trovão. Por exemplo: o cara era o principal chefão do tráfico de drogas no estado de São Paulo, além de comandar o crime organizado de dentro da penitenciária onde se encontrava com um exército de mais de cem homens sob o seu comando, que além de serem seus capangas também eram adeptos dos cultos satânicos que o marginal celebrava no presídio.

        Trovão tinha 1.90 de altura, pesava mais de 100 quilos bem distribuídos pelo corpanzil, largo feito um armário e forte como um touro, que cultivava trabalhando a musculação em exercícios diários. O negão nunca sorria a não ser para expressar menosprezo e deboche. Sentia prazer em ver o sofrimento alheio. Sua figura impressionava e qualquer homem, por mais valente que fosse, ficava atemorizado ao ouvir a voz trovejante do facínora, razão pela qual ganhou o trepidante apelido. No seu currículo não havia o emprego da violência física nas contendas em que esteve envolvido. Suas vitórias foram conquistadas na base da persuasão, com uma pequena ajuda dos seus asseclas, que tinham a incumbência de torturar ou despachar dessa para melhor os seus desafetos.

        Vários presos que tentaram realizar cultos cristãos na penitenciária dirigida pelo Dr. Petrônio foram vítimas de trágicos e fatais acidentes. Um despencou de uma escada de quatro metros ao tentar trocar uma lâmpada. Na queda quebrou o pescoço e teve morte instantânea. Outro morreu engasgado com um osso de galinha no refeitório da cadeia logo após discutir com Trovão. Muitos adoeceram e vieram a falecer após muito sofrimento. Até de peste bubônica teve um caso. É uma morte horrível, com feridas purulentas que se espalham pelo corpo.

        No início o Dr. Petrônio evitou bater de frente com o chefão do crime organizado. Já estava cascudo com os seus 55 anos de idade, com mais da metade dedicados ao serviço público, sempre no sistema carcerário do estado de São Paulo. A seriedade com que encarava o seu trabalho sempre foi reconhecida pela cúpula do sistema penal. Mas o diretor tinha uma fraqueza que tentava de todas as formas escamotear: era extremamente supersticioso. Na atual conjuntura sua situação era crítica. Os boatos que se disseminavam pela penitenciária a respeito dos estranhos acontecimentos envolvendo Trovão e sua turma estava afetando por demais o diretor. O seu imediato, conhecido como Matias, colocou mais lenha na fogueira quando fez um relato sobre os pombos, os quais Petrônio havia dado ordem de extermínio para evitar a infestação de piolhos e outras pragas. Segundo o seu substituto eventual os pássaros estavam sendo utilizados em rituais macabros pela turba trovejante. Matias arrumou um jeito de coincidir os acontecimentos fatais com o sacrifício das pobres aves. Pronto! Foi um baque na moral do diretor. Para piorar a situação o imediato fez uma narrativa dos rituais: “os pombos estão tendo o pescoço arrancado a dentadas pelo próprio Trovão, que ainda bebe o sangue dos bichos dando gargalhadas horripilantes”.

        No dia do relato de Matias o diretor resolveu ordenar uma ligação para Olegário, pois na visão dos presos do bem, esse era o único pastor que poderia enfrentar o chefão do crime na cadeia. Passou a incumbência para o imediato que logo refutou: “Doutor eu tenho família. Esse Trovão é colado com o demônio. Por favor, ligue o senhor mesmo. Essa manga é sua...”. O diretor ficou indignado. Chamou Matias de covarde. Mas a verdade é que ele também estava morrendo de medo do marginal. Pensava com os seus botões: “esse tal de Trovão tem mesmo pacto com o Diabo. Deixa todo mundo apavorado. E se quiser armar pra cima de mim?” Petrônio já estava adiando o contato com o pastor há várias semanas, mas um dos faxinas (preso que tem bom comportamento e ajuda a direção das cadeias em pequenos serviços) confidenciou que na rádio corredor já se espalhava que o diretor estava se borrando de medo dos poderes do diabólico.

        Ao tomar conhecimento de tal informação o diretor agiu rápido. Não podia deixar aquilo adquirir maior vulto na sua penitenciária, senão seria motivo de chacota. Decidiu ligar para o famoso pastor Olegário. Agora estava nas mãos do auxiliar do religioso, já que o principal vivia a segunda lua de mel. Com a ida de Santelmo na sua cadeia todos comprovariam que ele não teve medo do Trovão. Mas na verdade estava aterrorizado. Tinha que ter fé e acreditar que o pastor substituto daria conta do recado. Após a ligação entrou no pátio da galeria onde se encontrava o chefão dos presos. Era hora do banho de sol e Petrônio queria dar uma demonstração de força. Alguns detentos brincavam de futevôlei enquanto outros jogavam cartas ou apenas papeavam. Correu o olhar por todo o local. Uma cena chamou-lhe a atenção: num canto Trovão fazia flexões com uma agilidade incrível, sendo que nas costas havia um homem sentado.

        O diretor parou ao lado de Trovão, que ainda fazia o exercício. Este ao perceber a presença de Petrônio levantou-se de repente, derrubando o cara que servia de contrapeso, que acabou se esborrachando no chão. O diretor era um homem gordinho, de aproximadamente um metro e sessenta centímetros, que ao lado do bandido parecia Davi diante de Golias. Sentiu-se intimidado diante daquela massa de músculos, mas tentou não transparecer, afinal era o comandante da prisão e precisava que todos acreditassem que não tinha medo do marginal e de suas incursões no território da magia negra. Encarando o preso disse em alto e bom tom:

        − Trovão, saiba que eu estou trazendo um pastor para realizar um culto cristão na minha penitenciária. É uma iniciativa minha. Tem chegado aos meus ouvidos que você e alguns homens criaram um jeito de restringir as religiões que são contrárias as suas crenças. Não admito que isso ocorra no território que está sob minha responsabilidade.

O cara abriu um sorriso diabólico e respondeu: “se alguém disse que estou por trás dessa restrição o senhor deve me punir. Aliás, queria dar os parabéns. Vejo que o diretor preparou o pátio central com potentes caixas de som e montou um belo palco. Vai ser um grande evento”. Petrônio percebeu no olhar do marginal um brilho que indicava ódio e muita raiva, mas respirou fundo e continuou a sua fala: “quero que todos saibam que instalei novas câmeras de vídeo para gravar todas as ações durante o culto que será presidido pelo grande pastor Olegário”. Foi o diretor pronunciar o nome que as feições do bandido se transformaram. Petrônio captou uma ponta de medo em Trovão. Não perdeu a oportunidade para soltar algumas farpas. “O pastor Olegário é um enviado de Deus. Dizem que o Diabo se peida de medo dele. Você conhece esse religioso?” Meu mestre o conhece bem, respondeu Trovão. Curioso o diretor provocou: “e o seu mestre? Quem é o seu mestre?” A resposta veio de pronto: “Satã é o meu mestre”. Petrônio também não perdeu tempo e mandou de bate pronto: “Há! Mas ele nunca veio aqui na cadeia nos fazer uma visita”, debochando do bandido. “Veio sim, só que as pessoas que o viram não estão mais aqui. Falharam com o meu mestre e agora estão ardendo no fogo do inferno.”

O diretor não estava gostando do rumo que a conversa tomou e quis dar por encerrada a prosa: “não quero que o meu convidado seja hostilizado. Qualquer ação suspeita, captada pelas câmeras de segurança ou percebida pelos meus funcionários que possa colocar o culto em risco, será punida com o máximo rigor”. Trovão olhou bem fundo na alma de Petrônio e lascou: “fique tranquilo, doutor, terei o maior prazer em participar desse momento. Estarei no palco para receber o seu convidado e provar que de minha parte não há nenhuma oposição à religião de quem quer que seja”.

        O sábado chegou nublado, quente e abafado, com um toque de tristeza no ar. Santelmo se pavoneou todinho com suas melhores roupas de grife. Caprichou no banho de perfume francês, sapato de cromo alemão, colar, pulseira e anéis de ouro. Queria chegar em grande estilo no evento para impressionar a plateia. Estava confiante. Esse era o momento tão esperado. O dia de dar a volta por cima: sair de auxiliar para se tornar pastor. Tinha a noção de que se realizasse o exorcismo de Trovão iria virar uma lenda, assim como aconteceu com o seu amigo de longa jornada nos golpes. O vigarista colocou na cabeça que, tal como Olegário, teria sucesso nas ações de afastar o maligno da vida das pessoas. Essa era a oportunidade que tanto ansiava. Quando o parceiro chegasse da viagem de segundas núpcias iria se orgulhar do feito do pastor Santelmo na Penitenciária Central de São Paulo.

        O dia abafado, sem sol e meio cinza, fazia com que Santelmo respirasse com dificuldade ao sair de casa. Pegou a sua Toyota Hilux na garagem do complexo religioso e rumou para a Marginal Tietê. Deu de cara com um engarrafamento insuportável, daqueles que só São Paulo sabe fabricar. O carro era quase zero bala, tinha seis meses nas mãos do pilantra, e o ar condicionado estava na potência máxima. Ali na cabine do veículo o nababo nem ligava para o calor. Durante o trajeto foi curtindo os grupos de pagode que gostava de gravar em pen drive. Ia tamborilando os dedos no volante, no ritmo das músicas. Cantarolava alegre e volta e meia recordava dos bons momentos carnais vividos com Sueli.

        Ao se aproximar da penitenciária o veículo começou a engasgar. Faltando aproximadamente um quilometro para chegar o carro parou de funcionar e não mais pegou. Santelmo fez troça com a situação: “vai ver que o diabinho está querendo se livrar da minha presença, enguiçando a minha picape para me fazer mudar de ideia”. Saiu caminhando em direção ao seu destino. Logo nos primeiros passos teve que tirar o blazer. O dia nublado e abafado estava fazendo o gorduchinho suar feito um porco sovado. Enquanto isso, no presídio, o Dr. Petrônio inspecionava o palco, cuidando dos últimos detalhes para o sucesso do culto. Foi quando deu de cara com... “Como vai, Trovão?” O bandido respondeu: “tudo bem, senhor diretor. Estamos aguardando com ansiedade o seu convidado especial, que se não me engano está atrasado. Estou achando que ele não virá”. Petrônio olhou ao redor e tentou dissimular sua inquietação dizendo:

        − Que beleza! A afluência é maravilhosa. Acredito que nenhum preso tenha ficado nas celas. Salve qualquer engano, todos os detentos se fazem presentes. Com certeza será um grande evento, com todos dobrando os seus joelhos diante do magnífico Deus do pastor Olegário. Faço votos que você também caia diante de tão nobre presença.

        Dando uma estrondosa gargalhada, Trovão respondeu:

        − Isso é impossível! Já disse mais de uma vez, diretor, que tenho a minha crença e dela não abro mão. Estou aqui para receber o pastor e desfazer essa ideia de que eu teria proibido esses cultos morosos e desgastantes. Faço questão de permanecer no palco aguardando a chegada do seu convidado para dar as boas vindas.

O preso de confiança de Petrônio se chamava Juvenal, um homem de meia idade que era o responsável pela biblioteca da penitenciária. Minutos antes da prosa com o diretor Trovão havia interpelado Juvenal e trocado umas palavras em tom imperativo, explicando que jamais iria interferir na religião de quem quer que fosse e que não tinha a menor ideia de quem estava tentando intrigá-lo com a direção. Quem acompanhou o diálogo percebeu que o chefão da bandidagem estava mandando um recado para o informante dos guardas. O alcaguete sacou que a sua vida a partir daquele momento não valia um centavo.

O atraso do pastor já estava preocupando Petrônio, que notou alguns homens esticando uma fita amarela diante do acesso ao palco. Ficou incomodado com aquilo e se aproximou do local: “o que vocês estão fazendo”? Quem respondeu foi Trovão: “Senhor diretor, está havendo invasão do palco por parte de pessoas que nada têm haver com a organização; estamos colocando essa fita plástica para manter o público afastado, pois queremos que o seu convidado se sinta num ambiente acolhedor”. O diretor tocou na fita e assentiu com a cabeça, deixando escapar um “tudo bem”.

O burburinho das mais de três mil pessoas reunidas no pátio central ecoava pelos arredores da penitenciária. Santelmo já se encontrava a menos de 100 metros do portão principal e captava o rumor que vinha do pátio onde o culto seria realizado. A sua frente à passagem estava impedida, inclusive para pedestres, pois homens da Conservação Pública trabalhavam para desentupir a rede de esgoto. Formou-se um riacho de lama e dejetos que tomavam conta da rua e das calçadas, exalando um cheiro insuportável, fazendo com que o aprendiz de pastor tapasse o nariz com uma das mãos. Ao chegar próximo ao grupo de trabalhadores, que estavam debruçados sobre uma planta hidráulica no capô de uma camionete, indagou como fazia para ter acesso ao portão de entrada do presídio. A resposta foi desanimadora: teria que contornar todo o quarteirão.

Santelmo deixou escapar um “puta qui pariu” (sic) bem alto. Não estava acostumado a caminhar tanto. Suava em bicas. O blazer parecia pesar meia tonelada. As pernas davam a impressão de serem recheadas de chumbo. Mas não tinha alternativa. Levou mais de 25 minutos na trajetória, imprimindo um passo acelerado que quase fez o coração sair pela boca. No interior do complexo o barulho aumentava. Assovios e palavras de ordem ecoavam por toda parte: “o Olegário, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”. Petrônio não parava de consultar o relógio de pulso. Na sua mente os pensamentos rodopiavam: “se esse pastor não chegar em 10 minutos isso aqui poderá sair do controle”. Enquanto divagava foi tomado de surpresa: um silêncio estarrecedor. Todos os presos olhavam para uma das entradas do pátio. Virou para ver melhor o que se passava.

Santelmo acabava de adentrar no pátio. Seu semblante era só desolação. Expressava uma sensação de extremo cansaço. Vermelho qual um camarão cozido, com as roupas desalinhadas, todo suado, cabelos desgrenhados, um verdadeiro trapo. Petrônio logo percebeu que aquela entrada nada triunfal abalaria o moral dos cristãos. Mas caminhou em direção do vigarista e o saudou com um esfuziante abraço e logo o dirigiu, com um dos braços sobre o ombro do infeliz, para as escadarias que davam acesso ao palco. O impostor de pastor tinha enorme dificuldade para falar. Seu peito parecia que iria explodir, mas consegui, com muita dificuldade, perguntar se o tal Trovão estava presente, no que recebeu como resposta: “aquele grandalhão lá no alto, todo de preto, é o coisa ruim”.

O convidado estava desolado e em frangalhos. Saíra de casa todo alinhado, perfumado e feliz, mas sua chegada à penitenciária não foi nada parecido com o que havia previsto. Estava em “petição de miséria”, era o comentário mais bondoso que se ouvia entre os detentos. Ao se aproximar do palco cruzou o olhar com Trovão. Sentiu sua cabeça esquentar ainda mais com aquela encarada faiscante. Pensou consigo: “esse farsante até que representa bem”. Antes de subir captou alguns trechos das falas que se espalhavam pelo local: “esse não é o pastor Olegário”. “O gorducho é o tal 171 que acompanha o pastor.” “Coitado! Veio de boi de piranha”. “Trovão vai fazer picadinho dele”.

        Petrônio fez um sinal com a cabeça em direção a Juvenal. A senha era para o faxina levar o pastor até o palco. Quando o alcaguete tocou na fita plástica que contornava o acesso ao palanque deu um grito horrível e foi atirado há mais de cinco metros de distância. Santelmo arregalou os olhos e ficou estático. O diretor correu em direção ao seu informante. Pegou o pulso e constatou que o coração ainda batia. Chamou os guardas e pediu para removerem o acidentado imediatamente até a enfermaria. Petrônio sabia que estava sendo observado por centena de presos e que não poderia demonstrar medo. Aproximou-se da fita e a segurou. Nada aconteceu. Agradeceu a Deus em silêncio. Nesse instante ouviu a voz trovejante: “esse não é Olegário. Nem mesmo é pastor. Não passa de um auxiliar borra botas. Um menino de recados”.

        “Olha lá! Veja como fala, Trovão”, retrucou o diretor. Santelmo pegou a fita das mãos e embolando-a jogou na cara do bandido. Passou por ele e se encaminhou para o centro do palco. Lá chegando se dirigiu ao microfone e começou a falar:

− Estou aqui para desmascarar essa fraude, esse tal de Trovinha. Isso não passa de um diabinho travesso. Eu manjo dessas armações artísticas, que são feitas para impressionar as pessoas. Desafio o tal Trovoada para vir até aqui. Vou tirar o Diabo do corpo desse infeliz. Vou fazer ele se tornar um carneirinho. Será mais um crente a fazer parte da Igreja Renovação de Vidas para Deus.

        A gargalhada foi geral. Muitos riam de nervoso. Trovão, dirigindo-se a Petrônio, soltou: “o senhor é testemunha que esse palhaço veio aqui com o único propósito de me afrontar. Vou sair dessa brincadeira de mau gosto sem dar respostas às ofensas”. Dito isto, o marginal se retirou, sendo seguido por mais cinco presidiários. Fez-se um silêncio sepulcral enquanto atravessavam o pátio a passos lentos, sendo seguidos pelo olhar atento de todos os presentes. O diretor continuou firme no centro do palco, acreditando que o pastor impostor tinha mesmo colocado Trovão para correr. Isso trouxe uma tênue sensação de alívio que logo foi posta abaixo com o estrondo de três grandes explosões. Parecia que granadas haviam sido detonadas no interior do complexo. Em seguida, as caixas de som começaram a pegar fogo e enfumaçaram todo o ambiente. Começou um grande tumulto. Todos queriam sair correndo do pátio ao mesmo tempo. Mas só havia uma porta de saída liberada, das quatro que faziam parte do espaço. Dezenas de pessoas acabaram pisoteadas. Entre elas, o diretor.

        Santelmo conseguiu escapar quase ileso. As explosões agora se faziam ouvir nos quatro cantos do pátio. A fumaça negra aumentou e tirou completamente a visibilidade. Enquanto isso o pastor mequetrefe implorava aos guardas da portaria que permitissem a sua saída. Após gritar desesperadamente conseguiu ser liberado. Ao pisar na rua saiu em desabalada carreira. Ao se aproximar das obras que estavam sendo realizadas no entorno da penitenciária tentou pular a vala que estava aberta no centro da via. Pra que! Caiu bem no meio dos excrementos, afundando quase até o pescoço.

        Chegou até aos agentes, via funcionários da empreiteira, que um preso tinha saído em desabalada correria tentando fugir, pulando um valão de esgoto, mas acabou caindo na merda. Uma equipe foi deslocada para ir até o local. Ao chegarem, retiraram Santelmo daquela bacia de bosta e meteram a porrada no fujão. “Sabidinho! Queria aproveitar o tumulto e se evadir da cana dura.” O pobre coitado tentava explicar que não era um fugitivo. Mas os guardas não quiseram saber de conversa. O cara foi levado para o interior da cadeia e o pau cantou firme. Só depois de uma hora é que a situação do infeliz foi esclarecida, pois um dos agentes reconheceu Santelmo. Após alguns tímidos pedidos de desculpas, liberaram o porcalhão.

        Santelmo foi até o seu carro, na esperança de fazê-lo funcionar. Que nada. Nem sinal. Tentou pegar vários táxis, mas o seu estado lastimável espantava os motoristas. Depois de muito penar, voltou para o seu automóvel. Fez uma oração e girou a chave na ignição. Uma terrível explosão ocorreu no capô e Santelmo foi lançado para fora do veículo. Por milagre, havia deixado a porta aberta. Quando recobrou a consciência percebeu que o seu possante ardia em chamas. Parece que fora despertado pelo barulho de sirenes. Os bombeiros foram acionados para apagar as chamas e prestar socorro à vítima, que no caso era o próprio. Parece ter ouvido um dos soldados do fogo gritar: “dê um banho nesse cara antes de colocá-lo na ambulância. Parece que ele andou nadando na merda”.

        Acordou no dia seguinte em um leito hospitalar. Sentia o corpo inteiro doer. Parecia que tinha sido atropelado por um trem. Estava em uma enfermaria. Tentou chamar a enfermeira que cuidava de um paciente. Não conseguiu. Nenhum som saiu de sua boca, que também doía. A profissional estava de costas e custou muito para terminar o curativo que fazia. Quando passou próximo ao leito do falso pastor percebeu que o paciente havia acordado. Aproximou-se e disse: “já tiramos várias chapas do senhor. Parece que tudo está em ordem, a não ser pelos hematomas externos e os cortes no seu lábio e supercílio. Parece que nada de mais grave aconteceu. Estamos aguardando o médico de plantão para a inspeção geral”. Dito isto, foi cuidar de outro paciente.

        Santelmo olhou para o leito onde a enfermeira havia demorado nos curativos. Não podia acreditar: o paciente era muito parecido com o diretor do presídio e o seu estado era lastimável. Estava enfaixado da cabeça aos pés. Só o rosto de fora e cheio de hematomas.

        Passadas algumas horas, Petrônio acordou gemendo. Olhou para os lados chamando por alguém. Não reconheceu o pastor vigarista. Continuou com os gemidos, o que acabou por despertar Santelmo. Este perguntou: “está sentindo muitas dores, diretor?” Com dificuldades na fala, o paciente indagou: “quem é você?” Nesse momento a enfermeira retornou e Santelmo disse: “parece que o diretor está delirando e não me reconheceu. Acho que ficou desmiolado”. Petrônio retrucou: “quem perdeu a memória foi o senhor. Não lhe conheço”. Parecia uma conversa de loucos. O embusteiro respondeu: “eu sou o pastor Santelmo”. O diretor arregalou bem os olhos e exclamou: “caramba! Você virou um monstro. Está desfigurado”.

        O impostor solicitou um espelho para a enfermeira. Ao olhar sua face tomou um susto. Estava mesmo desfigurado. Os agentes penitenciários fizeram um excelente trabalho de UFC. A cara do infeliz estava amarrotada. Enquanto reparava no serviço feito pelos guardas, o subdiretor Matias entrou na enfermaria trazendo um relatório dos últimos acontecimentos. O faxina Juvenal, que trabalhava na biblioteca da prisão, passou dessa para melhor. Segundo o laudo médico, teve um ataque cardíaco. A perícia feita no pátio principal do complexo não constatou nenhum indício de incêndio criminoso. As imagens das câmeras de segurança também não mostravam nada de errado. Na gravação, as explosões não passavam de estalidos. Nem a fumaceira que tomou conta do local ficou bem registrada. O que ficou documentado foi o povo correndo desesperado em busca de uma saída do local. Os presos se negaram a testemunhar contra Trovão e o delegado responsável pelo inquérito estava dando entrevistas para a imprensa na linha: “pânico geral em razão de uma histeria coletiva ocasionado pela realização de um culto evangélico”.

        Nada ficou provado a respeito da participação de Trovão nos acontecimentos que formaram o tumulto na penitenciária central do estado de São Paulo. Petrônio ficou arrasado com a morte do faxina Juvenal, por quem tinha grande admiração. Veio a sua mente a cena do preso sendo atingido por um choque violento ao segurar a fita que limitava o acesso ao palco. Mas como poderia haver corrente elétrica naquele objeto, se o mesmo era feito de plástico? Mais um trágico fato para ser acrescido no histórico da sua administração. O diretor percebeu certa inquietação em Matias. “O que você tem mais a dizer? Pode soltar a tramela? Fale tudo sem rodeios. Precisamos tomar decisões”.

        − Todos os presos que interroguei concordam em um ponto: o único homem capaz de solucionar os problemas sobrenaturais que estão envolvendo o nosso complexo é o pastor Olegário. Para eles o grande erro nisso tudo foi trazer um genérico meio tigela que não tinha condição de encarrar o Diabo. Quando a barra pesou, o salafrário meteu dez no veado e sumiu na fumaça. Agora os caras exigem a presença do verdadeiro pastor exorcista.

        Dois dias após a visita de Matias, o arremedo de pastor teve alta. Petrônio exigiu que o mequetrefe levasse o verdadeiro pastor assim que ele retornasse da sua viagem de núpcias. O diretor estava preocupado com os desdobramentos na sua penitenciária. Não queria passar mais essa imagem de covarde para a sua população carcerária. A única maneira de contornar a situação seria a ida de Olegário a sua cadeia para colocar Trovão no seu devido lugar.

        Verônica e seu marido retornaram de viagem três dias após a alta de Santelmo, irradiando uma alegria incontida. A viagem foi maravilhosa e o retorno divino. Estavam morrendo de saúde dos filhos. Ao verem o amigo acharam que ele tinha sido atropelado, devido ao lastimável estado em que o infeliz ainda se encontrava. O faz de conta de pastor contou toda a história para o casal, nos mínimos detalhes. Enfatizou o seu fracasso como exorcista e garantiu que não queria mais saber de se passar por pastor, pois achava que seria fácil, mas a experiência vivida mostrou justamente o contrário: “é muito complicado. Tenho certeza de que o que ocorreu comigo e com o Dr. Petrônio foi obra do Diabo”.

        − A fé é a força que impulsiona a vitória do bem contra o mal. O Diabo tentou contra Jesus por 40 dias, enquanto o messias sofria de sede e fome no deserto. O demo fez de tudo para subjugar Cristo, minar a resistência e a fé do filho de Deus”, dissertou Olegário. Continuou a explanação falando que o demônio por mais que tentasse, não conseguiu fazer com que Cristo se afastasse do seu propósito: adorar e respeitar o seu Pai amado. “Satanás tentou convencer Jesus a se atirar do alto de um templo, através das miragens que gerava na mente do seu oponente, mas foi infeliz em todas as suas investidas.

        − Santelmo, o medo é a primeira demonstração da falta de fé. Os presos da cadeia central temem mais Trovão do que têm fé em Deus. Podem até não acreditar no Diabo, mas ficam amedrontados com os acontecimentos sobrenaturais. Não podemos perder a fé em Nosso Senhor, pois sem ela ficamos desarmados para enfrentar os nossos medos. Prometo que irei à penitenciária e converterei Trovão e seus seguidores.

A favela Mata Sete passava por uma efervescente fase econômica. O comércio local ia de vento em polpa. A paz reinava desde a chegada da Igreja da Reconstrução... Santelmo gozava um pouco da fama do amigo, pegando carona no prestigio do salvador da pátria por sua forte relação com o pastor. Todos na comunidade tinham respeito e admiração pelo pilantra, sendo que alguns até chegavam a se aconselhar com o safado, como se ele também tivesse poderes milagrosos. O melhor de tudo era o seu caso com Sueli. Estavam se dando bem à beça... Por outro lado, pintava uma pontinha de animosidade, uma insatisfação nessa carona do sucesso por parte do chefão do movimento na área.

Certo dia dava um passeio pela Mata Sete quando deu de cara com Cabeleira e seus seguranças. O ajudante de pastor já tinha percebido desde o primeiro contato com o bandido que o cara não foi com a sua pessoa. Sempre pensava: “se esse cara descobrir o meu caso com a mulher do Bodinho”... Estava estampando no olhar do marginal que o queridinho de Olegário não era bem-vindo no pedaço. Santelmo evitava até mesmo cruzar o olhar com o traficante, mas cada vez que procedia dessa forma, mais irritava Cabeleira, que alimentava com intensidade o seu sentimento de ódio. O fora da lei era um homem ignorante, grosseiro e muito violento. Naquele momento fez de tudo para desviar do caminho do bando, chegando a entrar por uma viela próxima, na tentativa de se esconder em um dos becos. Mas sua ação não logrou êxito. Foi cercado pelo grupo que estava fortemente armado.

        − Cara tu tá querendo se esconder de mim? Venha aqui que eu quero levar uma ideia contigo.

        − Pois não, seu Cabeleira. Imagina se eu vou fugir. Não é nada disso...

        − Olha, coroinha de pastor, o Bodinho me pediu pra respeitar e atender todos os desejos do Olegário e eu e meus amigos temos mantido o compromisso. Mas tu fique sabendo de uma coisa: quem manda no pedaço sou eu. A figura tá entendendo? Tu já deu duas mancadas comigo.

Santelmo tremia feito vara verde ao vento forte.

        − Seu Cabeleira, o que fiz para deixar o senhor tão furioso?

        − Seu bosta, não se faça de desentendido... Você tentou se passar pelo pastor, seu impostor, e eu já ia amarrotando essa cara branca de bundão na porrada... Depois teve aquela que você não queria recolher o meu dinheiro e o dos meus soldados naquela sacola pra gente não ser abençoado e protegido por Deus...

        − O senhor entendeu tudo errado...

        − Ah! Você ainda acha que eu entendi tudo errado? E para com essa baboseira de senhor. Não sou seu senhor, porra nenhuma. Tu é um merda e eu não quero ter você por perto nem para limpar o meu tênis.

        − Não... Não é nada disso! Está havendo um grande mal-entendido aqui...

        − É melhor você calar a boca... Ouça bem o que vou te falar: estou achando que você envenenou a gente com o pastor e ele não tem falado com Deus sobre o meu bando. Toda semana um homem meu tá entrando em cana e os tiras ganham drogas e grana para liberarem a rapaziada. Estou tendo um puta prejuízo e acho que o culpado é você por não ter falado com o Olegário para botar a minha galera nas intenções de proteção. Resolve essa parada, senão tu vai comer grama pela raiz. E agora rala o peito que essa tua cara branca tá me dando enjoo.

Assim que se viu livre das garras de Cabeleira, saiu correndo na direção da igreja. Tinha passado o maior sufoco e não parava de pensar que o bandido podia ter posto fim à sua vida e que a ameaça poderia ser concretizada a qualquer momento. Quase se urinou ao pensar que o bandido havia descoberto o seu caso com Sueli. Tinha que encontrar um meio de resolver o problema do bando e assim agradar ao traficante. Como poderia dar cabo dessa missão? O cara era tão ignorante e violento que não entendia nem quando se falava com suavidade... Tudo não passava de um mal entendido, mas o brutamonte não percebia... De qualquer forma, tomou a decisão de não ficar mais passeando pela favela e assim evitar um novo e desagradável encontro com a turma do movimento. Chegou a cogitar um rompimento com a mulher de Bodinho, mas não conseguiu terminar... Quando se aproximava da mulata ficava todo ouriçado e nessa hora a cabeça de baixo comandava a de cima.

Passados alguns dias, o pastor Moisés chegou à igreja apressado e nervoso. Foi direto falar com Santelmo, sem ao menos cumprimentar alguns fiéis que faziam trabalhos comunitários na congregação. Cabeleira exigia a presença do auxiliar no interior da Mata Sete. O recado foi dado com agitação, uma vez que o emissário relatou que sentiu um clima muito pesado na pracinha do alto: “nem que você me assegurasse que eu poderia ir sem medo e que estava tudo bem, eu não iria falar com esse possuído...”

Na mesma noite Cabeleira foi até a igreja. O cara estava possesso e queria porque queria falar com Santelmo. Claro que o picareta mandou dizer que não se encontrava na área. Mas o bandido disse que não arredaria o pé do local. Foi quando Olegário ouviu a gritaria e foi ver do que se tratava. Ao encontrar o traficante e seus seguranças falou com suavidade:

        − Irmão! Em que posso lhe ajudar?

        − Pode, mas não está ajudando porque não quer. Aquele seu assistente safado tem impedido do senhor fazer orações por mim e para os meus homens. Todo dia alguém entra na dura. Já cansei de falar com esse filho da puta. Cada fez que falo com ele a coisa só piora. Tivemos um papo responsa... Questão de uma semana atrás. De lá pra cá, perdi muita droga para poder libertar meus soldados, fora os aviões que dançaram e as armas que perdemos. Já perdi muita grana, pastor, e não sei se o senhor está fazendo o joguinho do seu amigo ou se ele não está pedindo a sua ajuda nesse babado. Só sei que a gente está se lascando na mão dos meganhas. O prejuízo já é muito grande. E tem mais: dois dos meus melhores homens, que botaram uma grana firme na sacola da igreja, caíram hoje de madrugada. Além de dinheiro eles se desfizeram das joias: cordões, anéis e pulseiras de ouro maciço... Acho que isso não tá legal.

        − Meu jovem, aí dos filhos rebeldes do senhor que continuam praticando o mal... Deus é fortaleza segura para todos que praticam o bem. Muitos dos filhos do Pai estão no caminho errado, mas Ele é misericordioso e sempre dá a oportunidade do arrependimento. Quando você sofre uma dor muito grande, é o Senhor fazendo você refletir sobre as suas ações. O Demônio sempre está atentando os homens a praticarem o mal, prometendo vida boa, luxúria, fartura e força. Mas depois cobra um preço muito alto: a alma de cada um. Seus amigos presos poderiam estar mortos. Foi essa a maneira que Deus arranjou para proteger a sua equipe... Todos estão vivos porque Ele não os abandonou. Não esqueça: todas as ações divinas são justas, pois o Senhor escreve certo por linhas tortas. Em sua sabedoria, nosso Pai muitas vezes nos faz sofrer, mas depois mostra o caminho certo para alcançarmos a Graça. Nosso bem maior é a vida. Nossa vida melhor é a paz de espírito, a aliança com Deus. Temos que ser úteis aos nossos irmãos. Devemos servir ao próximo. Essa é a nossa maior missão na Terra.

Cabeleira, apesar de impressionado com as palavras do pastor, não mudou a postura.

        − Olha pastor, o Bodinho não manda mais aqui. Sou eu que dou as cartas e decido qualquer parada na Mata Sete. Estou dando um ultimato: trate de colocar um freio nos caras da Lei. Empregue todas as suas orações, pois não vou engolir mais prejuízos.

Dito isso, virou as costas e nem quis ouvir as explicações do pastor. Rumou para o interior da favela e foi seguido de perto pelos seus homens. A semana seguinte foi terrível para Olegário. Não saia da sua cabeça a conversa com o traficante. Certa noite teve um sonho que desenhou um panorama sinistro: a sua frente fluía um rio de sangue, onde apareciam vários corpos boiando com fisionomias bem nítidas. Não tinha dúvida: eram os soldados de Cabeleira, que a certa altura também passou rio abaixo. Por três noites teve o mesmo sonho. O cenário da tragédia mudava um pouco, mas os rostos eram sempre os mesmos, com suas expressões de dor bem emolduradas.

Preocupado, procurou Santelmo na manhã de uma quarta-feira e contou, com pormenores e detalhes elucidativos, os três sonhos, que para ele formavam uma revelação divina. O amigo abriu o maior sorriso e comentou.

        − Enquanto você narrava as suas experiências soníferas tive uma ideia maravilhosa, a qual vai nos deixar bem na fita com Cabeleira e seu bando.

        − Que brilhante ideia é essa?

        − É simples. Teremos um culto hoje à noite, certo?

        − Evidente, como fazemos todas as semanas.

        − Pois bem, vou mandar um recado para o traficante comparecer à igreja com os seus seguranças e você vai relatar os seus sonhos do púlpito e dizer justamente como me relatou que tem certeza que se trata de uma revelação de Deus. O resto vai ser mole... Ah, dê conselhos para se afastarem da favela por 15 dias. Tenho certeza que eles vão acreditar em você. Quando retornarem você dirá que se eles tivessem ficado seriam trucidados pela polícia, que deu uma tremenda batida na Mata Sete.

        − E você acha que ao retornarem eles vão cair nessa historinha mal contada?

        − A gente combina com o delegado da área e pede para ele fazer um teatrinho aqui. Além do mais, o povo da comunidade necessita de seus cuidados religiosos e caso esse meu plano não seja colocado em prática quem terá de deixar a favela seremos nós... Se tivermos sorte de sairmos vivos...

Ao cair da noite Moisés iniciou o culto e logo após cantarem alguns louvores passou a palavra para Olegário, que do púlpito comprovou a presença de Cabeleira e seus principais homens sentados ao fundo do templo. A igreja não estava cheia, mas havia por volta de 200 pessoas participando do encontro. O pastor iniciou sua preleção agradecendo a presença de todos e especialmente do irmão Cabeleira e seus amigos, “pois Deus me deu o entendimento para convidá-los e revelar um sonho, que por três noites se repete nos mínimos detalhes,” e passou a relatar aquilo que classificou como uma revelação.

        − Vejo muitas mortes que me angustiam. Sempre visualizo as mesmas pessoas espalhadas em um rio de sangue... São os amigos do irmão Cabeleira, que também está no sonho. Alguma coisa de ruim está para acontecer e eu não poderia deixar de dar este aviso.

        O traficante se levantou e foi na direção do pastor.

        − Alguns amigos nossos foram presos e o senhor não teve nenhum sonho e não nos deu sequer um aviso. Sinceramente, acha que devo acreditar nesse sonho?

Todos no recinto ficaram perplexos com a atitude desafiadora do marginal. Até aquela data não tinham assistido a nenhuma demonstração de hostilidade do bandido contra Olegário.

O pastor manteve a tranquilidade e perseverou.

− Sim meu irmão, você deve acreditar em minhas palavras, pois elas são frutos de uma revelação divina e posso garantir que você e seus homens estão correndo um sério perigo e devem se afastar, o quanto antes, da comunidade, pois correm risco de vida.

        Cabeleira transtornado voltou a falar entre os dentes.

        − Olha pastor, eu não vou sair da favela porra nenhuma, mas vou fazer o seguinte: se alguns dos homens quiserem se afastar por alguns dias eu vou liberar e não ficarei puto com eles. Vou até agradecer por poder provar que todos vão ficar bem, inclusive os que ficarem na Mata Sete. Com isso mostro pra todo mundo que o seu sonho não passa de uma invenção.

Quatro dos 13 homens que acompanhavam Cabeleira pediram liberação para saírem da favela. Ao sair da igreja, o traficante comentou com um dos seus capangas, sem perceber que Moisés estava por perto.

        − Esse pastor está se saindo como um novo Dedé Macumba... Já estou de saco cheio desse cara. Quando terminar essa semana, se nada de novo tiver acontecido, ele vai virar a bola da vez. Vamos dar o mesmo trato nele e naquele assistente de merda, como demos no Dedé... Aqueles quatro otários que caíram nessa conversinha fiada também vão dançar... Vamos passar o cerol neles...

Um dos bandidos ainda tentou argumentar.

        − E o Bodinho? Não é melhor falar com ele primeiro? O pastor é muito querido...

        − O cara, quem manda nessa porra da Mata Sete sou eu! O Bodinho virou ovelhinha do pastor e saiu do crime faz tempo. Tu sabe quem sou eu, não sabe? Pois então, faça o que eu tô mandando ou o rodo vai cantar pro teu lado...

Moisés gelou. Saiu apavorado atrás de Olegário. Entrou pelos aposentos do pastor já soltando as palavras aos borbotões: “Santelmo e o senhor estão fritos!” E desenrolou a conversa dos bandidos. Santelmo, pálido igual cera de vela, falou. “Foi uma péssima idéia... Não contava com esse desfecho. Devemos também sair imediatamente da favela. Vamos inventar uma viagem de um evento qualquer”. Seu pensamento martelava ainda mais um problema: “imagina se descobrem o meu enredo com a Sueli? Ai Jesus! Me tira desse tormento...”

Olegário tentou acalmar o amigo, mas não conseguiu, pois durante a tentativa o sujeito foi tomado por um forte acesso de medo. Então apelou para que Moisés o substituísse enquanto estivesse fora. Os três acharam que essa seria a melhor alternativa.

Na cadeia Bodinho tomou conhecimento dos últimos fatos na Mata Sete e ficou muito chateado com a atitude do seu lugar tenente: “...que audácia do malandro! Falar desse jeito sobre aquele santo homem.” E mandou um recado atravessado para Cabeleira, dizendo que Olegário era diferente de Dedé Macumba. “O pastor é um homem de Deus e quando fala de revelações é porque os seus sonhos são recados divinos. É um profeta! O que ele diz vai acontecer. Todos tinham que se afastar da comunidade”.

Santelmo se culpava por ter tido a triste ideia do culto com os bandidos. Mas o seu maior desespero era para com o caso Sueli. Se a história viesse à baila ele seria um homem morto. Conversando com Olegário ao término do jantar do segundo dia após o episódio, externou.

        − Perdemos tudo, amigo. Não vamos mais poder pisar de novo na Mata Sete. Esse Cabeleira nunca foi com a minha cara e ele vai fazer de tudo para acabar com a gente. Logo agora que as coisas iam tão bem... Não temos saída... A não ser que você, no próximo culto, diga que Deus teve uma conversa contigo e que garantiu que atenderia um pedido seu para que nada de mal ocorresse com o bando...

Olegário olhou para o amigo com um olhar terno e tranquilo.

        − Santelmo, os tempos de mentira em minha vida estão no passado... Mesmo que eu fizesse o que você está sugerindo não iria adiantar. Cabeleira está determinado. Já tinha tido uma conversa com ele antes do culto, onde externou seu descontentamento com as constantes prisões dos seus comparsas, como se eu tivesse a obrigação de ter evitado tudo. Tentei explicar que Deus intervinha na vida das pessoas escrevendo certo por linhas tortas. Mesmo assim se mostrou furioso e inconformado com a situação. Ouça o que vou te dizer agora: posso lhe afirmar que vi o maligno ao lado dele... E não foi sonho não. Foi tudo muito real. Daqui para frente às coisas vão se complicar. Vai ser muito difícil, mas algo me diz que iremos achar a solução. Agora vamos nos recolher, pois temos muito que fazer amanhã. Nada como uma boa noite de sono para repor as energias.

        Durante o sono, Olegário teve um novo sonho. Um anjo apareceu e disse.

Alegra-te e tenha fé. Você é um dos escolhidos do Senhor e não mais cometerás pecados. Para todas as coisas há um tempo determinado por Deus e o teu tempo de pecado findou. Você já foi julgado e perdoado. O propósito do Senhor em tua vida é de grandiosidade. Muitos te esperam e irão festejar a tua volta. Retorne imediatamente ao teu trabalho missionário.

Pela manhã o pastor procurou Santelmo, que estava tomando o café da manhã no refeitório da igreja e relatou o sonho que tivera. “Não vamos mais deixar a Mata Sete. Vamos continuar com o nosso trabalho evangélico, pois Deus assim determinou.”

        − Olegário, eu estou te avisando, esse negócio dos sonhos não está dando certo... Eu não vou ficar nem mais um dia aqui... Tenho os meus motivos para acreditar que a minha vida corre muito perigo. Esse Cabeleira quer acabar comigo. Não ficarei para ser imolado...

Enquanto Santelmo falava, Olegário foi folhear o jornal que estava no aparador das louças. “Meu Deus, o sonho se realizou.” E passou o periódico para as mãos do amigo. Na manchete estava uma fotografia ampliada de vários corpos espalhados ao longo de uma viela. O título dizia: “Chacina na Mata Sete tomba nove.” No texto da reportagem, alguns entrevistados, que não quiseram se identificar, diziam ter assistido horas antes um culto evangélico no mesmo dia do massacre e que os mortos tinham sido avisados na ocasião que uma tragédia iria acontecer com eles. A profecia fora feita por um pastor e os únicos quatro homens do grupo que deram ouvidos, se retirando da comunidade, estavam salvos.

        − Olegário! Tenho que consertar uma frase que falei há pouco. Teu sonho estava certo! Nós podemos ficar na Mata Sete. O Cabeleira já era! Isso é bom demais... Salve, meu bom Deus! Eu estava tão apavorado que não quis ouvir a sua intuição. O Senhor de fato tem cuidado de nós. Aleluia, irmão! Estou salvo! Tenho que contar essa boa nova para a Sueli.

O amigo estava em silêncio. Refletia sobre os últimos acontecimentos. Surgiu uma vontade enorme de orar, profunda e verdadeira. Conclamou Santelmo para acompanhá-lo, sendo atendido com entusiasmo pelo assistente. Mas um detalhe na exaltação sincera do amigo despertou a sua atenção: por que ele contaria a novidade para a mulher do Bodinho?

* Estória de Jeronimo Guimarães Filho, adaptada e copidescada por mim.

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