O show pode esperar...

         
        Cara, foi muito bom. Não dava pra acreditar. Aquela amizade de um ano tinha chegado naquele ponto, com direito a chupão e tudo mais. Ela não era lá essas coisas como mulher. Quero dizer, não era nenhuma gata com aspecto fatal. Mas pra mim, que atravessava uma fase meio braba, o negócio foi bom. Fiquei com um puta tesão.

Cheguei à casa dela meio largadão. Estava de bermuda, pois fazia certo calor. Logo que ela abriu a porta, lançou um olhar de aprovação. Acho que foi aquele olhar que despertou a libido. Papo vem, papo vai, uma cervejinha, salaminho, ovinho de codorna... Taí... Havia esquecido esse detalhe: aqueles ovinhos também contribuíram para a decisão.

Mais papo, mais cerveja, mais tira-gosto... À noite caindo, a gente num tremendo papo cerca Lourenço, sentados na cozinha, ela do outro lado da mesa falando, falando. Nem lembro sobre o que falávamos, mas sei que minha cabeça maldava. Olhava para o seu corpo moreno e maquinava como ia dar o bote. Tinha que ser certeiro, pois, do contrário, poderia dar com os burros n'água. A ação tinha que ser rápida e fulminante. Dali a poucas horas era o momento do show, tão aguardado por nós. Não podia falhar. A rapaziada estava afinadinha e contava comigo para destruir na guitarra solo.

De repente, levanto. Vou ao banheiro dar uma sonora mijada, e naquele prazer em pôr tudo para fora decido. Na volta, peço o telefone. Ia avisar à cantora da banda sobre o atraso. Era mais fácil jogar o “h” nela do que nos caras. Eles iriam falar muita merda. Poderiam ficar tão putos que perderiam o astral para o show.

Enquanto discava, comentei que estava atrasado. A porra do compromisso atrapalhando o nosso papo. Ela, toda meiga, dizia que não tinha problema, a gente continuava outro dia. O número ocupado. Lá ia ela ligar a luz. Impeço, e com jeito digo que gosto de escuro. Ela se aproxima do interruptor. É o momento. Ao passar do meu lado, deixo o telefone de lado e avanço. Na tentativa de impedir que ela alcançasse o botão, taco-lhe um tremendo beijo. Frustrante. O motor não dá partida. Ela se solta. Não fica brava, mas diz que sou louco. Vislumbro luz no fim do túnel. Respiro e ataco novamente, puxando com cuidado o seu braço. Tasco outro beijo. Nada...

Porra, nunca falhou! Quando tinha tesão por uma mulher e colava a boca era fatal. Pensava com os meus botões: sei que ela está a fim, por que não capitula? Apertava o arrocho e mandava velocidade na língua. Ela empurrava fraquinho. Pausa para respirar. Ela foge, indo até o banheiro. Dei uma arrumada no cabelo, virei o último gole da caneca e pesquei um salaminho fatiado.

Quando ela retornou, quase pedi desculpas. Carinhosamente, puxei-a até a minha cadeira. Pedi para ela sentar na minha coxa esquerda. Entabulei uma conversa falando que estava atrasado, que tinha sido uma tarde agradável, mas que já era chegada a hora. Outro beijo. Senti melhora. Escorreguei a mão até os seios. Ela retirou. Levantei a blusa de malha, suspendi o sutiã. Apalpei o mamilo. Ela suspirou... Beijei bem devagarinho e passei a mordiscar. Ela gemeu, jogando a cabeça para trás. Fez menção de levantar. Deixei, pois tinha outros planos em mente. Quando finalmente ficou de pé, fui rápido ao gatilho. Puxei de uma só vez o short. Ataquei de língua. Ela não resistiu. Disse o meu nome e falou que estava bom. Aproveitei para tirar a calcinha. Mudei-a de lugar, encostando-a na geladeira. Mais beijos lá embaixo. Gemidos mais altos, meu nome na sua boca, a temperatura subindo...

Chega, ela disse! Vamos para a minha cama. 

        É pra já!!! O show pode esperar...

Foto: Carlos Pereira, Petrópolis, Teatro Santa Cecília, 1976.


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